Num mundo devastado por um apocalipse zumbi, imagens de cidades em ruínas, sociedades desmoronadas e a constante ameaça dos mortos-vivos dominam a imaginação popular. Filmes, séries de TV e livros exploram os horrores e os desafios de sobreviver em tal cenário.
Contudo, apesar dos zumbis serem os antagonistas óbvios nessas histórias, uma ameaça potencialmente mais perigosa e insidiosa pode não estar vagando sem rumo, mas sim, tomando decisões, liderando grupos e, em muitos casos, exacerbando o caos: os homens.
Este texto propõe uma análise crítica, argumentando que, em meio ao colapso da civilização, certos comportamentos e dinâmicas sociais humanas podem representar um perigo maior do que os próprios zumbis. Venha comigo nesta reflexão e tire suas próprias conclusões ao final. Boa leitura!
Apesar da ferocidade e irracionalidade dos zumbis, também conhecemos muito bem os problemas e fraquezas de um ser humano que, por vezes, se torna uma ameaça ainda maior para a sociedade. Abaixo, alguns motivos que corroboram esta afirmação.
A agressividade e a tomada de decisão impulsiva, frequentemente vinculadas a uma concepção distorcida de masculinidade, tornam-se altamente problemáticas em um contexto apocalíptico. Neste ambiente, onde o medo e a incerteza predominam, tais comportamentos podem levar a conflitos desnecessários, colocando em risco a segurança e a sobrevivência do grupo.
A literatura e o cinema estão repletos de exemplos em que personagens masculinos, impulsionados pela necessidade de afirmar controle ou por um impulso de agir rapidamente sem avaliar completamente as consequências, causam mais dano do que benefício. Seja um líder de grupo decidindo enfrentar uma horda de zumbis em desvantagem numérica ou um indivíduo agindo por vingança pessoal, a impulsividade e a agressão exacerbam as ameaças já presentes, minando a coesão e a capacidade de sobrevivência do grupo.
Em muitas narrativas apocalípticas, a competição entre os sobreviventes emerge como um tema central, muitas vezes exacerbada por dinâmicas de gênero que valorizam a competição em detrimento da cooperação. No entanto, a cooperação tem se mostrado uma estratégia de sobrevivência muito mais eficaz em situações de extrema adversidade. Grupos que conseguem ultrapassar as barreiras do individualismo e trabalhar coletivamente conseguem compartilhar recursos, conhecimentos e habilidades de maneira que beneficia a todos.
A competição, especialmente quando motivada por uma necessidade de demonstrar dominância ou superioridade, pode levar à fragmentação do grupo, desperdício de recursos e, em última análise, à sua ruína. Exemplos positivos de cooperação podem ser encontrados em histórias onde personagens de diferentes origens e habilidades se unem, compartilhando liderança e
tomando decisões baseadas no bem comum, demonstrando que a união e a colaboração são fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelo fim do mundo como o conhecemos.
Num cenário apocalíptico, a figura do líder autoritário, muitas vezes masculino, emerge frequentemente como uma solução aparentemente eficaz para o caos. No entanto, esse tipo de liderança pode acarretar uma série de problemas que comprometem a sobrevivência e a integridade do grupo. Líderes autoritários tendem a tomar decisões unilaterais, ignorando as opiniões e as necessidades dos demais membros do grupo.
Essa falta de diálogo e flexibilidade pode levar a decisões desastrosas, desconsiderando alternativas viáveis e criativas que poderiam ser sugeridas por outros integrantes. Além disso, a liderança autoritária pode fomentar um ambiente de medo e desconfiança, minando a moral do grupo e incentivando conflitos internos.
Em contraste, líderes que praticam um estilo mais democrático e inclusivo tendem a criar uma atmosfera de cooperação e respeito mútuo, onde cada voz é ouvida e considerada, aumentando a coesão e a eficácia do grupo na superação de desafios.
Em um mundo assolado por zumbis, onde a sobrevivência física é constantemente ameaçada, qualidades como empatia e inteligência emocional podem parecer secundárias. No entanto, essas habilidades são essenciais para manter a coesão social e a saúde mental do grupo.
A empatia permite que os sobreviventes entendam e se conectem mutuamente, criando laços de confiança e suporte mútuo essenciais em tempos de crise. A inteligência emocional, por sua vez, ajuda na gestão de conflitos, na comunicação eficaz e na tomada de decisões sensatas que consideram não apenas os aspectos lógicos, mas também os emocionais.
Grupos que valorizam e praticam essas habilidades tendem a ser mais resilientes, adaptáveis e capazes de enfrentar não apenas os desafios externos, mas também os internos, como o luto, o estresse e as tensões interpessoais.
Embora a ameaça dos zumbis domine o imaginário dos cenários apocalípticos, este texto argumentou que os verdadeiros perigos podem advir de dentro, especialmente de comportamentos e estruturas sociais prejudiciais perpetuados por homens.
A agressividade, a tomada de decisão impulsiva, a competição exacerbada e a liderança autoritária são aspectos que, embora possam oferecer soluções de curto prazo, acabam por comprometer a sobrevivência a longo prazo. Em contrapartida, a cooperação, a empatia e a inteligência emocional emergem como qualidades cruciais para a resiliência e a sustentabilidade de grupos em meio ao caos.
Assim,
o apocalipse zumbi se revela não apenas como um desafio de sobrevivência física, mas também como uma oportunidade para repensar e reformular as dinâmicas sociais e de gênero, visando uma sociedade mais equitativa e harmoniosa, tanto nas ficções quanto na realidade.
Em "Olhos Mágicos", o terceiro livro do universo pós-apocalíptico "Corpos Amarelos", somos transportados para o início da terrível Peste Dourada através dos olhares de Oliver e Rebeca, dois vizinhos que testemunham o caos desdobrar-se bem diante de seus olhos. Morando no mesmo andar, um de frente para o outro, cada um enfrenta a ameaça crescente de uma maneira única, compartilhando a angústia e o medo que se espalham tão rapidamente quanto a própria doença.
Por meio de uma narrativa que alterna entre os pontos de vista de Oliver e Rebeca, capítulo a capítulo, "Olhos Mágicos" nos oferece um vislumbre íntimo de suas vidas cotidianas, agora interrompidas pelo surgimento dos corpos amarelos. Utilizando-se dos olhos mágicos de suas portas, eles observam, impotentes, a transformação de seus vizinhos e o mundo exterior se desfazendo em caos.
Confinados, mas não derrotados, Oliver e Rebeca formam uma amizade forjada na adversidade. Juntos, enfrentam o dilema de permanecer em segurança nos limites de seus apartamentos ou arriscar tudo ao sair para enfrentar o desconhecido. "Olhos Mágicos" é uma história de sobrevivência, amizade e coragem diante de um mundo transformado, onde a esperança reside nos momentos de humanidade compartilhados atrás de portas fechadas.
Acompanhe Oliver e Rebeca em sua jornada emocionante, enquanto eles decidem se a vida além de suas portas vale o risco de enfrentar os corpos amarelos.
"Olhos Mágicos" está disponível em formato digital e você pode comprá-lo aqui, R$ 0,00 (para assinantes Kindle Unlimited) / R$ 7,90 (para comprar) (os valores podem alterar sem aviso). É uma publicação independente do autor Juliano Loureiro.
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Livros da série Corpos Amarelos
O Voo da Mosca (2025)
Olhos Mágicos (2024)
Passagem (2023)
Terraço (2023)
Os Corpos Amarelos são criaturas infectadas que um dia foram saudáveis humanos. Apresentando pele amarelada e ressecada, frequentemente exibindo vísceras e órgãos internos expostos, sua aparência pútrida oculta as inúmeras limitações desses seres, que podem adotar comportamentos variados.
Embora o número exato de variantes dos Corpos Amarelos seja desconhecido, fica claro que eles passaram por diversas mutações. Desde os inativos, lembrando um eterno estado de coma, até os "quase-comuns", seres que exibem certo grau de cognição.
A disseminação da infecção permanece envolta em mistério, seja através da inalação de um pó amarelo ainda não identificado, ou do contato direto entre o corpo pútrido e um ser humano saudável.
Numa manhã de sábado, uma densa névoa de poeira varreu os céus de Belo Horizonte, trazendo consigo um agente microscópico que selaria o destino da humanidade.
Em questão de instantes, milhares de pessoas foram infectadas, dando início a uma batalha desesperada pela sobrevivência contra os poucos que ainda não haviam sido afetados.
Tudo se desenrolou num piscar de olhos. Um dia ensolarado, acompanhado por uma brisa fresca no inverno da cidade, parecia perfeitamente comum. Mas o que se seguiu transformou essa tranquilidade em um pesadelo sem precedentes.
Cadáveres jaziam espalhados pelas ruas, enquanto os sobreviventes corriam em desespero em todas as direções. Hospitais sobrecarregados lutavam para lidar com a crise, supermercados eram saqueados e atos horrendos eram perpetrados em plena luz do dia.
O mistério pairava no ar, sem que ninguém soubesse a verdade. Teorias brotavam, alimentadas pela imaginação dos radialistas. Em questão de horas, serviços essenciais, como energia e comunicação, começaram a demonstrar sinais de instabilidade.
Pouco a pouco, os corpos amarelos passaram a dominar a cidade, enquanto os poucos sobreviventes humanos lutavam para decifrar a situação terrível que se desenrolava e buscavam desesperadamente uma saída.
"O Voo da Mosca" está disponível para e-book (Amazon Kindle) e também na versão impressa (Clube de Autores). Clique no botão abaixo correspondente à versão desejada.
Gabriel Caetano
"É sempre legal ver obras que quebram a mesmice e provam que podem sair da fórmula padrão. E é isso que esse conto me mostrou, pois em vez de focar só no apocalipse e nos zumbis, se aprofunda mais na psiquê humana e sobre o estado psicológico do protagonista enquanto enfrenta o caos, coisa que não acontece nas grandes mídias, onde os protagonistas geralmente aceitam a nova realidade em questão de poucos dias".
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Aelita Lear
"O que resta da humanidade? Com esse questionamento, somos colocados em um universo distópico rodeado por corpos amarelos e poucos humanos que lutam pela sobrevivência. Neste livro, somos levados e quase que obrigados a sentir as mesmas emoções do personagem principal, que luta contra zumbis amarelos de diferentes contaminações até chegar no Terraço, numa jornada eletrizante e viciante. Terraço é aquele tipo de livro que podemos ler de uma vez só, de tão envolvente e viciante, principalmente quando terminam os capítulos"
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