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Zumbis: da espiritualidade Vodu à iconografia da cultura pop

Juliano Loureiro • 11 de outubro de 2023

Os zumbis, tão populares no cinema, séries e literatura, inclusive, falamos bastante sobre isso por aqui. Mas, você sabia que zumbis têm suas raízes profundamente fincadas em tradições culturais e religiosas muito mais antigas do que muitos podem imaginar?! Longe dos monstros devoradores de cérebros que observamos na tela, a ideia original de zumbis vem do Vodu, uma religião com origens na África Ocidental e que é amplamente praticada no Haiti e em outras partes do Caribe.


Certamente essa relação nos permite explorar e entender o porquê a cultura pop tem tamanho fascínio pelos zumbis. Vamos explorar essa conexão fascinante? Boa leitura!

Vodu: Uma Introdução

O Vodu é uma religião que se originou entre os povos Fon e Ewe, na África Ocidental, sendo levada para o Caribe e para as Américas durante o tráfico transatlântico de escravos. Os escravizados trouxeram consigo suas crenças e práticas religiosas, que, com o tempo, foram misturadas com as tradições e crenças locais, especialmente no Haiti.


No cerne do Vodu está a crença em lwa (ou loas), sendo espíritos ou deidades. Os seguidores do Vodu entram em comunhão com esses espíritos por cerimônias, danças e rituais, a fim de receber orientação, proteção ou cura.

Zumbis no contexto Vodu

A palavra "zumbi" tem suas raízes na palavra Kongo "nzambi", que significa "espírito de um morto". No contexto Vodu, um zumbi não é necessariamente um monstro morto-vivo que vemos nos filmes. Em vez disso, ele é frequentemente visto como um corpo sem alma, trazido de volta à vida mediante rituais mágicos.


Existem diversas narrativas e crenças sobre como um zumbi pode ser criado no Vodu. Uma das mais conhecidas envolve um feiticeiro ou "bokor" que pode reanimar os mortos e controlá-los para seus próprios propósitos. Às vezes, isso é realizado para vingança ou para trabalho forçado. Acredita-se que a vítima seja controlada por substâncias tóxicas ou encantamentos.


Em algumas versões dessas histórias, a pessoa não está realmente morta, mas sim em um estado de transe ou paralisia, dando a impressão de morte. Posteriormente, a pessoa é "revivida" e fica sob o controle do bokor.


No Vodu haitiano, o zumbi não é um monstro sedento de carne, mas sim um ser que perdeu sua vontade e consciência, tornando-se um escravo involuntário. Existem, na verdade, dois tipos principais de zumbis no contexto do Vodu:


  • Zumbi Corps Cadavre: Este é o tipo mais próximo do zumbi que muitos de nós conhecemos no cinema. É literalmente um corpo reanimado. Conta-se que os bokors (feiticeiros) conseguem trazer de volta à vida os recém-falecidos, utilizando poções e rituais mágicos. Uma substância derivada do peixe-balão, que contém uma poderosa neurotoxina, é frequentemente citada como o ingrediente principal na criação desses zumbis. Acredita-se que essa toxina possa induzir um estado de paralisia, fazendo com que a pessoa pareça morta. Uma vez "revivida", a pessoa permanece em um estado de transe e pode ser controlada pelo bokor.


  • Zumbi d'Água: Menos conhecido fora do Haiti, o Zumbi d'Água é um espírito ou alma capturada por um bokor e mantida em uma garrafa ou recipiente. Acredita-se que esse zumbi possa ser usado para trazer sorte ou riqueza para o bokor, enquanto o indivíduo do qual o espírito foi retirado permanece vivo, mas sem vitalidade ou energia.

Dos ritos para a cultura pop

Com o tempo, a ideia do zumbi evoluiu e se adaptou, especialmente nas culturas ocidentais. Durante o século XX, a figura do zumbi foi reinventada e adaptada por Hollywood, distanciando-se muito de suas raízes no Vodu. A ideia de um apocalipse zumbi e hordas de mortos-vivos famintos por carne humana tornou-se uma metáfora para vários medos socioculturais, desde doenças até colapsos sociais.


Enquanto o conceito do zumbi haitiano estava enraizado na religião e nas práticas espirituais, a transformação para o apocalipse zumbi da cultura pop ocidental tem raízes complexas.


  • Exposição ao Vodu haitiano: Durante a ocupação dos EUA no Haiti (1915-1934), os militares americanos entraram em contato direto com as tradições vodu e, ao retornar, trouxeram histórias sobre zumbis e magia negra. Isso alimentou a curiosidade e o medo ocidental em relação ao Vodu.


  • Cinema e literatura: A figura do zumbi foi introduzida no cinema com filmes como "White Zombie" (1932). Esse filme, e outros que se seguiram, reimaginou o zumbi, transformando-o de um ser humano controlado por feitiçaria em uma criatura faminta por carne humana.


  • Metáforas sociopolíticas: Ao longo do tempo, os zumbis foram usados como metáforas para várias questões sociopolíticas, desde o medo do comunismo durante a Guerra Fria até preocupações sobre doenças, capitalismo desenfreado e perda de individualidade.


  • Popularização na cultura de massa: O conceito moderno de zumbi foi solidificado com obras como "A Noite dos Mortos-Vivos" (1968) de George A. Romero. Este filme marcou a transição para o zumbi moderno: reanimado, desprovido de individualidade e com um insaciável desejo por carne humana. Séries, jogos e literatura subsequente abraçaram essa reimaginação, solidificando o zumbi como um ícone da cultura pop.

Conclusão

A evolução do zumbi, desde suas raízes espirituais no Vodu até sua presença onipresente na cultura pop, reflete como as sociedades reinterpretam e adaptam mitos e crenças para atender às suas próprias necessidades e medos.


Enquanto o zumbi contemporâneo pode parecer distante de suas origens vodu, a essência dessa criatura – a perda da alma, da identidade ou da liberdade – permanece intacta.

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